Os espectros de Goethe

“É meia-noite, quatro sombrios vultos, a Penúria, a Insolvência, a Privação e a Preocupação querem assombrar o velho Fausto no palácio, mas a porta está trancada. Apenas a preocupação consegue passar pelo buraco da fechadura. Quando Fausto se dá conta, tenta manter a preocupação longe dele, rechaçando o que ela diz: “Pára! Assim não me pegarás! / Não quero ouvir-te a absurda lábia / Seria ladainha tal capaz / De perturbar até a razão mais sábia”. Fausto conhece bem o perigoso poder da Preocupação, sabe como ela é capaz de transformar até os dias mais insignificantes em uma “malha horrenda”, de tornar qualquer posse e fortuna em algo inútil e de cobrir todas as perspectivas mais favoráveis com um véu sombrio. Contudo, não importa o quanto Fausto se esforce, a Preocupação não se deixa ir embora. Antes de finalmente partir, ela lança um hálito no rosto de Fausto e ele fica cego.” - A Apreensão, Johann Wolfgang von Goethe, Fausto. Uma tragédia. Segunda parte.
Uma vez cego pela preocupação, Fausto só enxerga os demônios que amarguram sua própria existência, ao que tudo lhe parece preocupante, ameaçador e impeditivo. Enquanto a esperança para o otimista ofusca aquilo que se opõe à sua expectativa, a preocupação lhe nega aquilo que poderia invalidar seus maus presságios. Logo, em tempos tão terríveis como os que vivemos, precisamos de mais amor e compreensão. Só Deus sabe quais sinistros espectros assombram o mais íntimo de nosso próximo.

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