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Mostrando postagens de junho, 2020

Vocabulário da pandemia

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Numa época em que a pandemia parece totalmente coadjuvante, onde mídias e o poder público estão ocupadas com outros temas, só resta recorrer ao bom e velho dicionário para entender algumas definições tão mal aplicadas. Logo, fica muito claro o motivo dos casos de Covid aumentarem tanto em nosso país. Distanciamento social - conjunto de práticas comportamentais para aumentar a distância física entre os indivíduos frente à um patógeno que é transmitido entre elas. Isolamento - por ocasião do teste positivo de um indivíduo em relação à um patógeno, ainda que este não apresente sintomas, promover o isolamento exclusivamente desta pessoa por um período pré-determinado. Quarentena - isolamento de grupos de pessoas expostas de pessoas não expostas à um patógeno independente da execução de testes. Cordão sanitário - espécie de quarentena cuja racional de isolamento se dá por região geográfica e não necessariamente por agrupamento de pessoas. Lockdown - é uma quarentena somada à adoção de penal...

A tragédia sobre a tragédia

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Nos últimos dias, o condomínio onde moro foi abatido por uma dura tragédia. Um vizinho nosso levava sua filha e namorado em seu carro, ainda próximo de casa, quando precisou parar num semáforo. Segundos depois, foi brutalmente atingido na traseira por um veiculo de luxo que era conduzido por um rapaz em alta velocidade. A menina, de apenas 18 anos de idade perdeu a vida neste acidente. O que se seguiu foi um sem número de mensagens no WhatsApp do grupo do condomínio, condolências, reverência, palavras de carinho, além de poesias e canções em homenagem à família. Tudo muito lindo e respeitoso até que alguns resolveram escrever “Deus no controle”, ou “Deus sabe de todas as coisas”, ou a pior versão de todas, “Deus sabe o que faz”. Senti de imediato uma repulsa ao ler este tipo de mensagem. Me coloquei no lugar daquele pai e daquela mãe, que acabaram de perder a sua amada filha, e ainda tem de lidar com a cumplicidade de um “deus” que se mancomunou com um rapaz para conduzir seu carro em ...

Pobreza e filantropia

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Pesquisa realizada recentemente no Brasil, antes da chegada do Covid, mostra que as pessoas que ganham até 10 mil reais por ano doam cerca de 1,2 % de seus rendimentos. Já as que ganham mais de 100 mil reais por ano, doam em média apenas o equivalente a 0,4 %, ou seja, três vezes menos. Estamos vivendo um momento impar na solidariedade e filantropia brasileira. Apenas no mês de Março deste ano, as doações já atingiram o valor total médio de um ano inteiro. Sabendo que a pobreza mata muito mais que qualquer pandemia, será que este patamar não poderia se tornar nosso novo normal? Pode até ser que não consigamos prevenir novas pandemias em nosso país, mas certamente estaremos muito melhor preparados se elas vierem.

Os espectros de Goethe

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“É meia-noite, quatro sombrios vultos, a Penúria, a Insolvência, a Privação e a Preocupação querem assombrar o velho Fausto no palácio, mas a porta está trancada. Apenas a preocupação consegue passar pelo buraco da fechadura. Quando Fausto se dá conta, tenta manter a preocupação longe dele, rechaçando o que ela diz: “Pára! Assim não me pegarás! / Não quero ouvir-te a absurda lábia / Seria ladainha tal capaz / De perturbar até a razão mais sábia”. Fausto conhece bem o perigoso poder da Preocupação, sabe como ela é capaz de transformar até os dias mais insignificantes em uma “malha horrenda”, de tornar qualquer posse e fortuna em algo inútil e de cobrir todas as perspectivas mais favoráveis com um véu sombrio. Contudo, não importa o quanto Fausto se esforce, a Preocupação não se deixa ir embora. Antes de finalmente partir, ela lança um hálito no rosto de Fausto e ele fica cego.” - A Apreensão, Johann Wolfgang von Goethe, Fausto. Uma tragédia. Segunda parte. Uma vez cego pela preocupação,...

O assombro e o ódio

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O tempo em que vivemos é assombroso. A realidade se impõe de uma maneira pesarosa. Aos poucos perdemos a esperança de que saiamos desta pandemia como pessoas e civilização melhores. Agora globalizado, o discurso de ódio parece imperar em todos os recantos do mundo. Mesmo aqui, em nossa pátria, o combate à corrupção endêmica embora bandeira legitima, cobra de nós um alto preço, com a sinistra demonstração de um regime que mescla elementos nazistas, fascistas, oportunistas e ironicamente comunistas. A população dividida, se estapeia confusa diante de toda sorte de informações que, cuidadosamente manipuladas, coloca amigo contra amigo, irmão contra irmão, filhos contra pais. Mãos que clamam por sangue, por vida, aproveitam-se do momento para insuflar ainda mais ódio entre as pessoas. Discursos que em condições normais seriam motivo de total repulsa, hoje são aplaudidos e propagados a todo vento, transportados pelo que há de mais moderno na tecnologia. Os eventuais Mahatma Ghandis sequer s...

O perigo do olhar enviesado

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Conta a História que durante a II Guerra Mundial, a Marinha norte americana (US Navy) acompanhava com preocupação o número de aeronaves abatidas durante as missões de guerra. Buscaram então analisar os danos afim de melhorar sua blindagem, visando ampliar as chances de sobrevivência e portanto de sucesso. Pacientemente analisaram a fuselagem de cada uma das aeronaves que retornavam das missões, afim de entender quais eram os locais mais vulneráveis. O resultado foi este mapa onde os pontos vermelhos representam os locais mais danificados. O estudo tornou óbvio que deveriam ampliar a blindagem nestes locais pois eram os mais sujeitos à danos. Felizmente um estatístico chamado Abraham Wald alertou os estudiosos da Marinha que eles estavam enganados, pois ao deixar de olhar a amostragem completa estavam tomando decisões erradas. Ele argumentou que justamente os aviões atingidos nas áreas do nariz, motores e centro da fuselagem eram os que jamais retornavam, pois os locais atingidos eram f...