O valor do debate


Outro dia tentei um debate com um amigo muito querido. Ambos apresentamos nossos argumentos e, na impossibilidade de chegar a uma conclusão, desistimos, seguindo cada um para seu lado, sem aprofundar o assunto. Lamentei naquele dia a perda que ambos sofremos. Digo isso pois o debate honesto aprofunda visões, amplia ou derruba o próprio argumento. Não era o caso entre eu e meu amigo, mas em nossa cultura temos uma dificuldade enorme em dialogar. Há sim muito de vociferar em seus próprios currais, (reais ou virtuais), mas pouco espaço para o real e honesto debate. Até no meio acadêmico, onde deveria florescer e ser exuberante, sobraram apenas discursos ideológicos inflamados e sem conteúdo. E pior, se há um desavisado que tenta trazer uma ideia que confronte o “mainstream”, será alvo de todo tipo de impropérios. Em seu famoso livrinho On liberty, o filósofo inglês John Stuart Mill afirmava que silenciar uma opinião é “um mal peculiar”. Se a opinião é correta, somos roubados da “oportunidade de trocar o erro pela verdade”; e, se está errada, somos privados de uma compreensão mais profunda da verdade em “sua colisão com o erro”. Logo não deveria causar tamanha comoção que haja gente que defenda Ustra ou Chavez. A liberdade de expressão é um dos alicerces da democracia. Na realidade a cura para um argumento falacioso não é a supressão de idéias, mas um argumento melhor. Em nosso país, fomos ensinados desde criança que religião, política e futebol não se discutem. Resultado, nossas igrejas vendem “milagres” parcelados no cartão de crédito, o futebol tornou-se vergonha mundial e, na política, ora flertamos com ditaduras militares ora com bolivarianas. Lamentavelmente, a educação em nosso país vem sendo corroída sistematicamente, seja pelo descaso ou puro maquiavelismo. Como produto, ganhamos uma massa gigantesca de gente que não consegue pensar por si mesmas. Daí como dizia o astrofísico Carl Sagan, “se não podemos pensar por nós mesmos, se não estamos dispostos a questionar a autoridade, somos apenas massa de manobra nas mãos daqueles que detêm o poder. Mas, se os cidadãos são educados e formam as suas próprias opiniões, aqueles que detêm o poder trabalham para nós.”.

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