A pureza dos pequeninos
Crianças são seres abençoados. Talvez por este motivo que o Mestre dizia que a gente tem de ser tal como elas para herdar o Reino dos Céus. Como sempre fazemos nas manhãs de sábado, estávamos eu e minha esposa lendo um livro em nossa varanda enquanto escutávamos um chorinho que tocava tão gostoso neste dia ensolarado. Foi quando comecei a ouvir uma menina de no máximo 10 anos chamar sua coleguinha, a Julia, para brincarem juntas. Ela, em sua própria varanda queria brincar com a amiguinha que estava na torre em frente à sua, (ou seja, o prédio onde moro). Em tempos de Corona vírus, em que ninguém pode sair de casa, ela não teve duvidas, chamou aos gritos sua coleguinha e ambas começaram a brincar juntas mas separadas. Por conta do diálogo entre elas, fiquei sabendo que a primeira chama-se Letícia. Não bastou muito para que resolvessem chamar outra amiguinha. E assim, novamente aos gritos chamaram também a Manu, que logo se juntou à brincadeira. Que delicia perceber como as crianças resolvem facilmente seus problemas, que conseguem ser tão parceiras mesmo nas situações mais adversas. Dai, desviei o olhar e percebi que alguns andares mais abaixo, uma senhora aparentando seus 70 anos, caminhava em passos largos e firmes, com o celular na mão, talvez marcando seu tempo de volta, entrando e saindo de casa. Ela, dava uma volta pela varanda e entrava dentro de casa, emergindo uns 30 segundos depois. E assim sucessivamente, voltas e mais voltas, se exercitando para manter a saude nestes tempos tão difíceis. Numa destas voltas, num breve momento, ao perceber que a olhava ao longe, me devolveu um sorriso que me pareceu tão idêntico ao das crianças que brincavam alguns andares acima. Foi ai que me dei conta que é assim mesmo: - nascemos sabendo viver, como crianças. Depois crescemos e assim que nos tornamos adultos por algum motivo esquecemos. Porém, um dia para os bem afortunados que atingem a velhice, de algum modo relembramos como viver e tornamos a ser como crianças novamente. É neste momento que passamos a agir como minhas vizinhas, seja brincando, seja caminhando. Antes de tornar à leitura de meu livro, ao som de fundo de Aquarela do Brasil, pensei comigo: Realmente, bem-aventurados os pequeninos, pois deles é o Reino dos Céus.
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