Luz na escuridão


Apaixonado que sou por tecnologia, não suporto ficar 5 minutos sem eletricidade. Assim que falta, lá vou eu para o número da Enel para enviar uma mensagem por celular para registrar meu chamado, (e de quebra minha insatisfação). Contudo, sempre achei que há um quê de mágico na escuridão, na ausência da modernidade. Lembro da alegria de criança quando cessava o fornecimento, seja porque uma árvore partira o fio, seja por conta da tempestade que assolava. Lembro-me de olhar fixamente para o movimento bruxuleante da chama da vela, que iluminava, mas também projetava sombras que pareciam se materializar em seres ou coisas fantásticas. Disparava um sem número de mundos perdidos na imaginação. Estórias brotavam aos borbotões, imaginárias ou não. E daquelas que não pertenciam ao imaginário, as melhores eram os contos de infância de meus pais, os quais curiosamente não nasceram prontos, mas haviam sido também a seu tempo crianças. Era um dos poucos momentos em que abriam a janela do tempo pra gente espiar suas artes, correndo, brincando exatamente como a gente. Ou talvez não exatamente, visto que o mundo deles parecia ser ainda melhor que o nosso, mais mágico, mais misterioso. Rubem Alves disse certa vez que a gente nasce sabendo apreciar o mundo, a brincar no grande playground da vida. Mas depois viramos adultos e esquecemos de tudo. Então, só na velhice é que nos recordamos como é ser criança. Quisera lembrar já hoje como é brincar e viver com um olhar infantil. A lembrar da beleza que há em cada pequenina gota de orvalho que reflete a luz do sol matutino, do sorrir despreocupado para o desconhecido, para brincar sem saber de relógio, só percebendo que tem de voltar pra casa porque já escureceu.

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