Fundamentalismo político


Li nos últimos dias vários posts no Facebook sobre o vandalismo ocorrido no Monumento às Bandeiras e na estátua do Borba Gato. Gente indignada de um lado e gente fazendo troça de outro. Sim, houve até quem dissesse que foi pouca tinta. Até ai, sem grandes problemas, afinal a liberdade de expressão é uma das mais belas dádivas de um país democrático. O que de fato me preocupou e me moveu a escrever este post, foram os comentários que vieram depois. Houve quem alegasse que as estátuas eram ofensivas e faziam menção a bandidos que haviam matado índios e escravizado negros. Deviam ser destruídas. Pior, alguns de modo caricato, outros agressivos, ainda rebaixavam os que se manifestavam contra a depredação. Meu coração se inquietou muito pois os que proferiram este tipo de pensamento não me pareciam pessoas pouco esclarecidas.
Em 2001, em nome de uma linha de pensamento ligada a uma religião, radicais bombardearam um sitio arqueológico no Paquistão cujas gigantescas estátuas possuíam mais de 1000 anos. Noutra ocasião, fundamentalistas islâmicos destruiram em poucos dias 3 cidades cuja origem remonta ao período de 1300 a.C. Seja por fundamentalismo religioso, seja por fundamentalismo politico, a violência acaba sendo a mesma. Fico a pensar: - já imaginou se a moda pega? Afinal de contas, o Império Romano foi uma sociedade que se expandiu graças ao escravismo e a destruição sistemática dos povos que os desafiavam. Com base neste mesmo raciocínio, estes proporiam derrubar o Coliseu? Penso que apagar o passado não é a melhor maneira de honrar o futuro, mas modificá-lo no presente a partir do que aprendemos. Quer mesmo honrar os índios? Ajude a defender a causa deste povo hoje. Quer honrar os afro-descendentes? Ajude a construir uma sociedade equalitaria, onde todos tenham direitos iguais independente de credo, cor, religião ou partido politico. Utilizar os meios democráticos para isso é a maneira mais coerente de fazê-lo. Desmerecer os que pensam diferente ou demonizá-los, foi a maneira que déspotas utilizaram no passado para fazer prevalecer sua maneira de pensar. Auschwitz ainda permanece em pé não por simpatia a Hitler e a seus ideiais, mas para servir de memorial daquilo que jamais deve ser repetido. Afinal, da queima de livros para a queima de gente, o caminho é curto demais.

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