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Carta Aberta à NASA

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Querida NASA, Desnecessário dizer aqui o quanto esta agência é mundialmente admirada. A comunidade global reconhece suas contribuições para o desenvolvimento de um mundo melhor, de um mundo sem fronteiras, onde o infinito é o limite. Sendo um grande admirador desta agência, sinto-me compelido a lhes encaminhar um alerta sobre a decisão recente de renomear certos corpos estelares, com o objetivo de demonstrar inclusão e diversidade. Peço que não me entendam mal. Compartilho destes valores tāo essenciais para nossa civilização. Entretanto, gostaria de ajudá-los à luz da experiência de nosso país, a evitar certas trilhas já caminhadas, que se mostram inócuas e terríveis na linha do tempo.  Aqui no Brasil, há algumas décadas, começamos um grande movimento de renomear coisas, sempre a partir de objetivos nobres. Darei alguns exemplos: - antes utilizava-se o termo favela para designar um agrupamento de domicílios paupérrimos, sem qualquer infraestrutura e saneamento, geralmente criadas e

Eu queria ser civilizado como os animais

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Por estes dias, assistindo um programa de divulgacão cientifica na TV, vi algo extraordinário sobre vida inteligente no reino animal. Por volta do ano de 1900, Karl Ritter Von Frisch realizou um extenso estudo sobre o comportamento das abelhas em seu habitat, a partir de observações detalhadas de colmeias. Surpreso, notou que os pequeninos seres, ao contrário do que o senso comum apregoa, não vivem numa monarquia, mas num bem-sucedido exemplo de democracia.  A abelha rainha, possui como missão vital a reprodução da colônia. Entretanto, cada uma das fêmeas da colmeia possuem plena capacidade de assumir o cargo, bastando para isso que se mude sua dieta e receba o cetro que graciosamente é concedido pela abelha rainha sempre que há uma necessidade de expansão. O que mais chama a atenção nesta democracia é a sua organização e precisão das comunicações. Quando precisam procurar outro local para viver, seja pelo crescimento, seja por outra necessidade, o grupo das abelhas mais velhas e exper

Entre pensadores e aviões

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Num mundo polarizado, de extremos, onde um fervor quase religioso nos impede de ouvir, analisar, entender outras visões da realidade, há muita energia gasta à toa, um desperdício desmedido, uma perda enorme de capital humano. A maior perda, lamentavelmente, se dá no campo da ciência, do conhecimento. Para ilustrar, tomo um exemplo do mundo da psicologia, mais especificamente da ala que trata dos estudos da cognição. Há alguns fervorosos defensores de Jean Piaget que se desentendem com aqueles que defendem a visão de Lev Vigotsky. Já outros, entendem que nem um nem outro, mas Henri Wallon é quem tem a melhor escola em se tratando do tema da cognição humana. O curioso, porém, é que estes três grandes pensadores olhavam o mesmo tema sob óticas totalmente distintas mas plenamente complementares. Piaget focava o tema sob um olhar da biologia, buscando entender os mecanismos e estruturas cerebrais envolvidos neste processo. Vigotsky estudava os mecanismos de cognição a partir da influên

Vocabulário da pandemia

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Numa época em que a pandemia parece totalmente coadjuvante, onde mídias e o poder público estão ocupadas com outros temas, só resta recorrer ao bom e velho dicionário para entender algumas definições tão mal aplicadas. Logo, fica muito claro o motivo dos casos de Covid aumentarem tanto em nosso país. Distanciamento social - conjunto de práticas comportamentais para aumentar a distância física entre os indivíduos frente à um patógeno que é transmitido entre elas. Isolamento - por ocasião do teste positivo de um indivíduo em relação à um patógeno, ainda que este não apresente sintomas, promover o isolamento exclusivamente desta pessoa por um período pré-determinado. Quarentena - isolamento de grupos de pessoas expostas de pessoas não expostas à um patógeno independente da execução de testes. Cordão sanitário - espécie de quarentena cuja racional de isolamento se dá por região geográfica e não necessariamente por agrupamento de pessoas. Lockdown - é uma quarentena somada à adoção de penal

A tragédia sobre a tragédia

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Nos últimos dias, o condomínio onde moro foi abatido por uma dura tragédia. Um vizinho nosso levava sua filha e namorado em seu carro, ainda próximo de casa, quando precisou parar num semáforo. Segundos depois, foi brutalmente atingido na traseira por um veiculo de luxo que era conduzido por um rapaz em alta velocidade. A menina, de apenas 18 anos de idade perdeu a vida neste acidente. O que se seguiu foi um sem número de mensagens no WhatsApp do grupo do condomínio, condolências, reverência, palavras de carinho, além de poesias e canções em homenagem à família. Tudo muito lindo e respeitoso até que alguns resolveram escrever “Deus no controle”, ou “Deus sabe de todas as coisas”, ou a pior versão de todas, “Deus sabe o que faz”. Senti de imediato uma repulsa ao ler este tipo de mensagem. Me coloquei no lugar daquele pai e daquela mãe, que acabaram de perder a sua amada filha, e ainda tem de lidar com a cumplicidade de um “deus” que se mancomunou com um rapaz para conduzir seu carro em

Pobreza e filantropia

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Pesquisa realizada recentemente no Brasil, antes da chegada do Covid, mostra que as pessoas que ganham até 10 mil reais por ano doam cerca de 1,2 % de seus rendimentos. Já as que ganham mais de 100 mil reais por ano, doam em média apenas o equivalente a 0,4 %, ou seja, três vezes menos. Estamos vivendo um momento impar na solidariedade e filantropia brasileira. Apenas no mês de Março deste ano, as doações já atingiram o valor total médio de um ano inteiro. Sabendo que a pobreza mata muito mais que qualquer pandemia, será que este patamar não poderia se tornar nosso novo normal? Pode até ser que não consigamos prevenir novas pandemias em nosso país, mas certamente estaremos muito melhor preparados se elas vierem.

Os espectros de Goethe

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“É meia-noite, quatro sombrios vultos, a Penúria, a Insolvência, a Privação e a Preocupação querem assombrar o velho Fausto no palácio, mas a porta está trancada. Apenas a preocupação consegue passar pelo buraco da fechadura. Quando Fausto se dá conta, tenta manter a preocupação longe dele, rechaçando o que ela diz: “Pára! Assim não me pegarás! / Não quero ouvir-te a absurda lábia / Seria ladainha tal capaz / De perturbar até a razão mais sábia”. Fausto conhece bem o perigoso poder da Preocupação, sabe como ela é capaz de transformar até os dias mais insignificantes em uma “malha horrenda”, de tornar qualquer posse e fortuna em algo inútil e de cobrir todas as perspectivas mais favoráveis com um véu sombrio. Contudo, não importa o quanto Fausto se esforce, a Preocupação não se deixa ir embora. Antes de finalmente partir, ela lança um hálito no rosto de Fausto e ele fica cego.” - A Apreensão, Johann Wolfgang von Goethe, Fausto. Uma tragédia. Segunda parte. Uma vez cego pela preocupação,